agosto 29, 2007

Lugares Habitáveis

Embarquei em Belo Horizonte no dia 10 de dezembro com destino à Boston, com a mesma sensação de quase todos os que vão embora: êxtase e melancolia.Apesar de não suportar mais a cidade e o meio onde eu vivia, de não me caber mais nem no meu próprio quarto, estava deixando pra trás família e amigos. Além de já estar cansada de ouvir minha mãe dizer aos outros: “Tadinha dela, vai sofrer demais lá, não tem nada pra fazer e nem vai ter amigos.”Mesmo assim, fui, convicta de que era o melhor a fazer, e que por pior que fosse não seria pior do que aqui.Após algumas semanas, já um pouco mais familiarizada e com uma rotina estabelecida, comecei a entender o que minha mãe queria dizer, me senti ilhada, sem vida e sem vontades... nem vontade de comer eu tinha, o que é um absurdo pra uma pessoa nascida numa família de gordos, onde no fim tudo sempre acabava em comida.Durante os seis meses que estive lá, posso contar nos dedos quantas vezes eu caminhei nas ruas de alguma cidade, quantos amigos eu fiz ou qualquer tipo de lazer. A não ser comprar compulsivamente ou bater papo com minhas amigas daqui via messenger, o que aliás fazia durante a maior parte do meu tempo livre, em nenhum momento consegui me livrar daquela vidinha tão irritante que havia deixado pra trás.Mesmo nessa total monotonia, não conseguia entender quando as pessoas de lá me diziam que queriam entrar na minha bolsa quando eu viesse embora ou diziam me invejar simplesmente porque eu iria voltar a viver aqui.Apesar disso, em nenhum momento eu consegui sentir saudades do lugar onde minha rotina era bem mais agradável que aquela, com mais contato físico de forma geral, onde eu podia ser quem eu sou e conviver com as pessoas com as quais me identifico.Hoje, já de volta e com muita vontade de ir embora novamente, não consigo entender a loucura de não gostar do lugar onde posso ter o que gosto e ter vontade de voltar pra onde não há “vida”. A única coisa que posso pensar é que podem construir cidades flutuantes, submersas, tubos, bolhas, grandes plataformas de petróleo ou cidades na sua forma mais convencional ainda vão existir pessoas para habitar cada uma delas.

6 Comments:

Blogger Gisele said...

ate arrepiei!!!!
boa volta hein????
adorei o texto!!(ate podia te dizer pelo messenger, mas achei melhor deixar minha opinião marcada aki...no hoje, no agora, de todos, de qualquer um e de ninguem)

11:08 PM  
Blogger Jucélia said...

Pior do que não haver lugares para se habitar, é não conseguirmos habitar...é estarmos "des"locados...talvez um encontro consigo mesma pode aliviar? Seu texto mostra o quanto vc é capaz...Pode ser que ao se encontrar, vc se perca ainda mais, talvez dentro de vc mesma...Mas tenho certeza, que vai ser muito mais interessante, somos cidades diversas e moldáveis ao nosso próprio prazer...Somos nós os construtores.

1:48 AM  
Blogger Kênia said...

Putz Ju: "...somos cidades diversas e moldáveis ao nosso próprio prazer..." legal isso hein!?
Fúfus seu texto ficou realmente muito bom!!!

7:10 AM  
Blogger milenapais said...

Este comentário foi removido pelo autor.

8:03 PM  
Blogger milenapais said...

É mto de raiz, eu acho. COSTUME. Criamos raízes, ao lado de família, amigos, durante anos.

Em fase d adaptação, mudança d ares e correndo atrás d novas metas, a gente conta na maior parte com pessoas estranhas, tentando não perder a essência.

A questão é o qnto queremos coisas diferentes, viver de formas diferentes, conhecer lugares diferentes, ter moradias diferentes.

Como exemplo de raiz e costume, vê-se no Brasil algo bem diferente de lugares da Europa e Estados Unidos... As pessoas daqui tem o sonho da casa própria e as d lá, não. Pagam-se alugueis e dão prioridades a várias outras coisas na vida, antes msmo da casa.

8:06 PM  
Blogger jorge tanure said...

texto otimo, mas meio forçado a relação c o tema proposto... mas nao precisava ser.

3:38 PM  

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