outubro 20, 2009

Arquitetura Postal

Pelas janelas do meu apartamento eu vejo pedaços de uma cidade, fragmentada pelas placas, letreiros, outdoors com pequenas manchinhas verdes uma aqui e outra ali mesclando-se entre os trincados de concreto,aço, ferragens e revestimentos cerâmicos.
Entre letras, formas, fotos, imagens, carros, pessoas; tudo quase se mistura. As pessoas, os veículos e os edifícios parecem esconder-se atrás de estampas em roupas, adesivos, pinturas e seus glamurosos néons.
A cidade aos poucos vai perdendo o aspecto arquitetônico, as pessoas em seus prédios parecem querer esconder-se atrás de propagandas, e o que sobra é apenas uma necessidade frenética de “tentar” vender e “querer” comprar. O que?
Os outdoors do outro lado da estrada parecem grandes TVs, pois a cada dia em que eu os observo vejo imagens diferentes, imagens com prazo de validade, mas com validade suficiente para que em algum momento eu pare, olhe,e os observe mesmo com a velocidade do ônibus ou carro – (quando estou percorrendo a cidade em um deles) eu consiga lê-los.
Em todo o percurso vejo uma arquitetura sendo sucumbida pela propaganda. E em meio à todo esse misto de informação,cor/luz vejo uma arquitetura contemporânea que surge com o intuito de se impor na cidade através da visibilidade clara do espetáculo. Uma arquitetura postal usada como forma de marketing de empresas, lugares e até mesmo de pessoas.
Aos poucos o espaço urbano vai se descaracterizando e deixa de ser um lugar de trabalho e moradia e passa a ser um espaço teatral, que parece não mais ser capaz de seduzir por sua própria conformação, e necessita agora de “super-produções” e “pesadas maquiagens”, como os jogos de luzes nos arranha-céus de Pudong em Xangai,os grandes letreiros e outdoors da Times Square ou os estrondosos prédios de Dubai.