outubro 22, 2009

Viver...

Nossos corpos contemporâneos condensam atitudes anacrônicas, contraditórias ao contexto temporal.
Desde que a humanidade começou a pensar, no sec V a.C., com Sócrates e Platão, os atos de falar, raciocinar ou representar tornaram-se mais importantes que os de viver, experimentar e sentir. A materialidade súbita ao âmbito de uma mera idéia. Logo a alma tornou-se mais importante que o corpo.
Contraditorio a esse pensamento, Nitshe no sec XVIII, tenta inverter essa lógica Platônica que valoriza o pensamento racional desvalorizando o corpo. Ele afirma: "A primeira relação com o conhecimento é física. Tudo é corpo, nada mais".

O pensar é um gesto que nasce do corpo.
A razão um pensamento que nasce de outro pensamento.
O limite da racionalidade se encontra numa mera negociação entre os signos e as reações apreendidas através da vivência.

A imposição racionalista permitiu que a linguagem "susbtiuísse" a experiência, entorpecendo os corpos, tornando-os cada vez mais passivos.
Essa "tal" experiência, obviamente antecessora à linguagem, é "a" condição passageira necessária para o pleno exercício da consciência, para uma percepção ampliada das coisas.
É preciso valorizar o não dito, o que já está dado. Lugares muitas vezes insuportáveis, dada a ausência do artificío da linguagem.
Os corpos contemporâneos necessitariam então, se libertar da covardia, de aprender a lidar com a frustação, com o medo e o incômodo, sentimentos que estão localizados em nós, numa fronteira entre a repetição e a criação.
É preciso atuar no mundo com originalidade e atitude frente às coisas, não seguir os paradigmas impostos e herdados por uma sociedade imersa numa condição autofágica, determinada por uma "lavagem cerebral" instuída pelo sistema ao qual a humanidade se encontra inteiramente imersa. A partir daí, torna-se possível imaginar a possibilidade, de no máximo compreendermos na sua totalidade, o significado do termo livre arbítrio, e aí então, enfim, de de fato: viver.

Cícero Menezes