novembro 25, 2009

[Ex]paços

É da natureza do homem adaptar-se a qualquer habitat em que se encontre, transformando-o e apropriando-se de seus recursos.
A inserção de pessoas em espaços já construídos, gera possibilidades de re-configuração espacial ou funcional por uma necessidade de melhor interação, necessidade esta que vai se moldando ao longo do tempo.
Esta foi a mesma discussão gerada nos anos 50, em que, durante o Movimento Moderno, o desejo de solucionar o problema habitacional nas grandes cidades propondo unidades habitacionais padronizadas (dentre outras iniciativas), acabou fracassando por ter criado uma arquitetura distante da realidade. Segundo Robert Venturi, arquiteto norte-americano e crítico da arquitetura moderna, “produzindo arquiteturas heróicas e supostamente originais”, e empobrecendo as relações urbanas com uma “abstração alienante (...) gerando os não-lugares inabitáveis e organizados da cidade funcional” _ termo usado por Aldo Van Eyck.
Essa pseudo-mutação muitas vezes pode caracterizar cidades, bairros ou vilarejos, onde as moradias geralmente estão implantadas ofuscadamente na percepção da maioria das pessoas. Relembrando a Pop Art neste sentido, em que elementos banais, quando mudam de escala e estabelecem conexões no contexto, tornam-se obras de arte.
É preciso somente de sensibilidade ao olhar a cidade, e não apenas julgá-la como indiferente ou insossa.
Devido aos diferentes modos de vida adotados pelas pessoas atualmente, a habitação também está mudando. Para Aldo Rossi, arquiteto e teórico italiano, “as formas não são diretamente o resultado das funções, e sim, vão além das estritas funções”. Mas neste caso a função determina a forma, é o morador que se apossa da casa e a transforma de acordo com suas necessidades. As diversas categorias (habitação, trabalho, lazer e transporte) estão se fundindo, resgatando algumas qualidades do período medieval, onde tudo acontecia em um só cômodo.
Essa multifuncionalidade dos ambientes ocorre devido ao fato de que o modo de vida contemporâneo não tem mais tempo. Como diz Renata Marquez : "É necessário desacelerar o olhar, desnortear os passos [...] reverter as reações nulas" para que o corpo seja "solicitado a lembrar-se da sua presença e da sua matéria, bem como da sua relação com o muno."
A casa é quase que um organismo vivo, que, de acordo com Denise Bernuzzi de Sant´Anna, “exprime o ser, informa-o e emite informações suas. Promessa de relação.”
Me questiono então, se há uma simbiose entre a vida e a casa tornando-a este organismo vivo que está sempre em gestação, ou serão as barreiras físicas da casa, limites que impedem a fusão dessa vida embrionária com o universo exterior?