setembro 03, 2009

Obra e discurso


Foi inevitável não se lembrar de Lygia Clark. Lygia foi uma grande artista dos anos 40. Utilizava objetos do nosso cotidiano como água, conchas etc., com uma intenção de desvincular o lugar do espectador dentro; no que diz respeito à arte, aproximando-o de um estado onde o mundo se molda, ficando a mercê de constantes transformações. Tudo que ela produzia sendo quadros ou escultura ficavam além dos limites do suporte. As suas obras queriam ganhar espaço.

Constantes transformações, Isto me fez pensar na cidade que vivemos, onde a nossa participação é simplesmente como mero observadores, não queremos envolver com o que já está pronto ou propor mudanças por algo que estar por vir. Vemos, percebemos, mas ficamos calados, estagnados sem reação, deixando o discurso transcorrer sem ao menos intervir, tocar, sentir, mudar a posição.

Na realidade as cidades, nos dias de hoje, reflete o descompromisso do setor público com a ordenação do espaço urbano. Causa a impressão de que tudo se pode e de que a cidade é terra de ninguém, quando, na verdade, ela é território de todos.

Pensar nestas constantes transformações no que diz respeito a um crescimento ordenado para as cidades, vejo isto como um grande desafio na arquitetura, mas a partir de agora, não significa destruir tudo o que existe e iniciá-la a partir de um novo traçado do tecido urbano. Um novo ordenamento urbano das cidades é quase que condição básica para a instalação de um processo democrático, permanente e contínuo de planejamento. Não é apenas um belo discurso para seu projeto ou buscar um embelezamento do espaço. As obras têm que ser planejadas, discutidas e elaboradas com a total e irrestrita participação de todas as partes interresadas no assunto. Mas será que queremos participar?

Helen Bussinger Neubert