março 17, 2007

Autenticidade

Uma leitura fenomenológica da vida cotidiana contemporânea permite uma indagação hipotética da utilização da cidade como suporte e como cenário ativo dotado de paisagens deterioradas, imagens sintomáticas e signos culturais forjados. Tais cenários dialéticos não geram formas estáticas, mas sim, como disse Didi-Huberman, “formas em formação, transformações, efeitos de perpétuas deformações”.1

No entanto, em meio a essa mutabilidade ininterrupta, ao amálgama preexistente e ao diversicolor das cidades surgem ideais de segregação e auto-isolamento com uma constante subversão à variedade de elementos espaciais arquitetônicos, cujas conseqüências podem derivar o aparecimento de micros habitat antropológicos ou ilhas habitacionais, uma verdadeira excisão austera da massa urbana.

Muitos desses núcleos se fecham criando complexos ditames organizacionais que desenvolvem paisagens cinematográficas e fictícias, uma arquitetura falsa, sem memória e identidade, melancólica e monótona, com uma ambientação em escala de cinza, árida e fastidiosa capaz de causar oftalmalgia em pensadores mais críticos.

Esses espaços lineares, que não permitem a sobreposição e múltiplas interpretações das condições do passado e do presente, não favorecem a apreensão sensitiva tornando-se os chamados não-lugares de Marc Augé.

Ilustrando essa constante perda dos rastros e vestígios de uma urbanidade cada vez menos humana, a foto “Big Livable” de Alex MacLean poderia certamente encerrar em si a frase “isto não é um bairro” ou “isto não é uma cidade”, intertextualizando a tela “Traição das Imagens” de Magritte.

Contudo, diante dessa problemática deve haver uma perquirição que impeça a evolução dessa arquitetura espetaculosa, que nega o acaso, as descontinuidades e as ambigüidades, e que se tornam hematomas no corpo das cidades em processo. As práticas de planejamento urbano precisam executar gestos menos pretensiosos e deterministas para diminuir a ameaça à perceptibilidade espacial, e ainda amplificar a aceitação do distúrbio, da diferença e da diversidade como substâncias inevitáveis no urbanismo da atualidade, que almeja uma reterritorialização mais sensitivamente fértil e que tem a pretensão de ir na direção oposta à higienização e à uniformização.


1- DIDI-HUBERMAN, Georges. O Que Vemos, o Que nos Olha. São Paulo: Editora 34, 1998.

8 Comments:

Blogger ontem fui assim said...

oi pessoal do blog!
alguem sabe me informar se tem como corrigir um errinho de português no meu texto?
obrigado

3:08 PM  
Blogger Amanda Machado said...

A abordagem do seu texto é incrivel e poderia resultar em um bom artigo... mas confesso que precisei de um dicionário para entender uma meia dúzia de palavras no seu texto!!!
bjim

5:57 PM  
Blogger jorge tanure said...

amanda, milena, thiago e thales, estou impressionado com vcs. se os senhores conseguirem manter esse nivel de texto ate o fim do semestre, a gente pode publicar um livro heim...
e, thiago, o texto esta incrivel, mas realmente dah p escrever mais facil, sem perder a precisao e a radicalidade q esta presente no texto.

6:26 PM  
Blogger milenapais said...

Este comentário foi removido pelo autor.

6:51 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nossa com tantos textos bons, tô até com medo de postar o meu!!!rsrsrs

9:18 AM  
Blogger tiago d. carvalho said...

que bom q vc ta gostando dos textos jorge, eu tb estou achando todos bem interessantes. E quanto à idéia de publicar um livro acho bacana d+, quem sabe podemos colocá-la em prática. Estou me lembrando do espaço que o curso de Arquitetura tem no Jornal Diário do Aço quinzenalmente, quem sabe poderíamos publicar pelo menos um texto de cada tema?

Mi eu tb recordei desse bairro da disney quando estava escrevendo, e a proposta eh justamente fazer uma critica à esse tipo de arquitetura.

5:49 PM  
Blogger leila figueiredo said...

ei Tiago quanto ao errinho de portugues, eu não sei não mas será que tu sabes corrigir formatação?
Ai se saber me conta.
Ah e o teu texto ta ótimo, depois tu me ensina a senha.
beijos

7:26 PM  
Blogger deon said...

tiago,
to aprendendo hoje como e que funciona, mas isto eu descobrí:
para corrigir, faça logim, depois click na estrelinha administrar postagem, aí aparece o texto, vc corrige e publica novamente, é simples, eu consegui da primeira vez, abraço.

9:47 PM  

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