novembro 16, 2009

>>> Poluição Visual ???

As pessoas, os veículos e os edifícios parecem esconder-se atrás de estampas em roupas, adesivos, pinturas e seus glamurosos néons. Entre letras, formas, fotos, imagens, carros, pessoas; tudo quase se mistura.
A cidade aos poucos vai perdendo o aspecto arquitetônico, e as pessoas em seus prédios acabam escondidas atrás de propagandas, e o que sobra é apenas uma necessidade frenética de “tentar” vender e “querer” comprar.
Os outdoors espalhados por todos os lados parecem grandes TVs, pois a cada dia em que se vê, imagens diferentes, imagens estas com prazo de validade, mas com validade suficiente para que em algum momento pare, olhem,e os observe mesmo com a velocidade do cotidiano.
Por todos os lados se vê uma arquitetura sendo sucumbida pela propaganda. E em meio à todo esse misto de informação, observo uma arquitetura contemporânea que surge com o intuito de se impor na cidade através da visibilidade clara do espetáculo. Uma arquitetura postal, usada como forma de marketing de empresas, lugares e até mesmo de pessoas.
Aos poucos o espaço urbano vai se descaracterizando e deixando de ser um lugar de trabalho e moradia, passando a ser um espaço teatral, que parece não mais ser capaz de seduzir por sua própria conformação, necessitando agora de “super-produções” e “pesadas maquiagens”. Uma forma gritante de capitalismo.
No livro “Condição Pós – Moderna” o autor David Harvey ¹ recebe as críticas dos pós-modernos como legítimas e saudáveis, sobretudo quando essas críticas chamam atenção sobre as diferenças e o direito dos "outros" falarem com suas próprias vozes.
No entanto, diz se não for olhado além dessas diferenças será perdido de vista os processos gerais nos quais se movem as pessoas. Assim estarão impedidos de pensar o capitalismo.
Por outro lado, podem-se assimilar as diferenças pelo capitalismo, criando o mercado das diferenças convertidas em mercadorias. Sendo assim, estamos acostumados a “consumir diferenças” em restaurantes, filmes, música, viagens, roupas, propagandas, etc. uma reserva inacabada de mundos fragmentados onde se pode escolher.
Assim, como as novas formas de produção e acumulação capitalista, os projetos do pós-modernismo são marcados pelo domínio das imagens.
Este domínio de imagens do pós-modernismo foi muito bem abordado pelos autores Robert Venturi², Denise Scott Brown e Steven Izenour,no livro “Aprendendo com Las Vegas” onde a idéia de uma arquitetura visual de letreiros e outdoors foi sugerida como opção à falta de ornamento propagada pela arquitetura moderna.Com o pós-modernismo, esta idéia tomou corpo.
Um dos maiores erros é confundirmos ornamento com decoração e no entanto Venturi, reduz o ornamento à simbologia comunicativa. Em “Aprendendo com Las Vegas,os autores defendem uma paisagem urbana dominada por anúncios e letreiros como forma de suprir a falta de referência urbana que a arquitetura moderna não proporcionaria.
Esta posição, que se espalhou tanto quanto a cultura de consumo,considerou a arquitetura como algo secundário. Surgiram então os galpões decorados. A atitude das grandes cidades pode ser lida, assim, como uma revisão desta política urbana de consumo, surgindo aí uma nova chance para a arquitetura.
No entanto a nova visibilidade da arquitetura de alguns prédios não deixa de ser comparada, com a arquitetura moderna pré-fabricada.
Os outdoors, os cartazes publicitários, as faixas colocadas nos viadutos e as propagandas pintadas nos muros são apenas alguns dos elementos que são espalhados em excesso por todo o mundo, contribuindo assim com a poluição visual. Uma ‘’paisagem’’, que de tão comum, é vista como “natural”, mas que na maioria dos casos, confronta com o Código de Obras e Posturas das cidades brasileiras.
Não estou insinuando que nenhuma grande metrópole do mundo irá proibir completamente anúncios exteriores, mas em geral, outdoors poderiam ser tolerados em áreas específicas, quase sempre longe dos centros históricos e urbanos.
Em Curitiba está em andamento o projeto cidade limpa que partiu da cidade de São Paulo.
Este projeto visa uma limpeza visual da cidade de Curitiba, o projeto entra com um decreto que estabelece o tamanho padrão da propaganda, a distância mínima entre elas e até a cor da moldura.

‘’Até a publicação do decreto, a publicidade era regulamentada pelo Códigos de Posturas da cidade. A lei é inspirada na Lei Cidade Limpa do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab que retirou das ruas da capital paulista cerca de 1.312 outdoors. A prefeitura de Curitiba estima que existam na capital cerca de 3 mil equipamentos de publicidade externa. A previsão da prefeitura de Curitiba é reduzir em 40% de todo esse material e a multa prevista para quem manter propaganda em desacordo com o decreto pode variar de R$ 100 a R$ 5 mil.’’(Artigo da Prefeitura de Curitiba)

Uma forma muito interessante que esta sendo usado em Curitiba, para resolver o problema da propaganda, sem uma poluição visual e o road-door, o primeiro outdoor de asfalto.
Com isto podemos ver que em todo o Brasil temos o problema da poluição visual, assim, diante da proliferação de imagens, signos e mensagens que vêm ocorrendo nas cidades, devemos acreditar que a urbanização das cidades pode ficar cada vez melhor se conseguirmos abordar o problema que passa pela discussão do seu significado e alcance.




Notas:
1 - David Harvey: Arquiteto e escritor.
2 - Robert Venturi: Arquiteto e escritor.

Bibliografia:

Livros:
HARVEY, David. Condição pós - moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1993. 349p
VENTURI, Robert; IZENOUR, Steven; Brown, Denise Scott. Aprendiendo de Las Vegas: el simbolismo alvidado de la forma arquitectónica. 4. ed. Barcelona: GG, 2000. 228p

Sites:

www.vejinhaonline.urbano-projeto belezura.htm
www.arcoweb.projetobelezura.com
www.cidadelimpacuritiba.com.br
www.prefeituras/curitiba.com