setembro 26, 2007

Ficções Habitáveis


Às 3h da manhã estou com uma turma de amigos ao redor de uma mesa, vários cascos de cerveja no chão, copos cheios, risos, música, cigarros, quando ouço um som irritante de galinhas cantando insistindo em me avisar que está ficando tarde e temos poucas horas até o dia amanhecer.

O telefone toca às 10h da manhã, uma enorme dor de cabeça se manifesta, eu acho que o mundo tá acabando e é só uma amiga me convidando para ir me curar em um lugar que se parece mais com um “pedacinho do céu” que ela acabara de conhecer, cujo nome misturava palavras de língua inglesa e portuguesa. Lá iríamos passar o dia cercado de verde, ouvindo apenas o cantar dos pássaros, poder caminhar entre flores, comer verduras e legumes livres de agrotóxicos.

Entramos no carro e dentro de pouquíssimos minutos estávamos no tão sonhado “paraíso”, a única coisa que ela não havia me dito era que o céu continuaria acinzentado e se eu resolvesse olhar além do gigantesco muro que nos cercava veria não muito distante dali, grandes chaminés.

Aquele lugar me fez lembrar de umas casas enormes e sem cercas, todas com jardins muito bem cuidados onde uma vez eu vi famílias passeando com os cães nas praças rodeando suas fontes. Me lembro também que era tudo tão limpo e quieto naquele lugar que na ocasião não consegui deixar mais que o meu olhar penetrar naqueles espaços.

No fim do dia, eu já recuperada, resolvemos sair para jantar em um restaurante onde a comida tem “sabor da fazenda” e é exposta sobre fogões a lenha. Quando olhei ao redor, em alguns instantes, pensei estar em um daqueles casarões de fazendas de novela. Resolvi olhar quem era o responsável por aquelas delícias e fui até a cozinha, lá me deparei com fogões industriais e refrigeradores revestidos de inox.

Quando saí de lá, após caminhar sobre um piso brilhante comum em shoppings centers, entrei novamente no carro e fui pra um bar dançar ao som do DJ mais descolado do momento, cheio de pessoas moderninhas entorpecidas por drogas sintéticas.

Quando fui me deitar, a única coisa que pensava era em acordar no dia seguinte e conseguir descobrir onde, afinal de contas, eu estava.

7 Comments:

Blogger Gisele said...

entao...
sempre voltamos a estaca zero???
rsrs

10:06 PM  
Blogger Gisele said...

de verdade..
legal o texto...
são simplesmente ficções (se é q uma ficção pode ser simples)ou são realmente habitáveis???

10:07 PM  
Blogger ladyfufu said...

Uai Gisele, que tanto de interrogações são essas? Ta parecendo alguém que eu conheço...

10:14 PM  
Blogger Gisele said...

hehehe
é sempre muito mais fácil questionar do que afirmar... e é sempre bom aprender coisas fáceis!
parei viu...
seguinte... sem interrogações...
sei (suponho) que sejam ficções, mas é claro q elas so existem no momento que vc a vive (constrói)... são ilusões que chegam a ser até mesmo experimentações... e só é habitável o que se experimenta...
(na proxima tiro as reticencias..rsrs)

10:24 PM  
Blogger Jucélia said...

Este comentário foi removido pelo autor.

6:38 PM  
Blogger Jucélia said...

Concordo com vc Fufu, a relação estabelecida por você é muito mais artificial. Quando o campo adentra a cidade, na grande maioria das vezes é como elemento decorativo, não acontece uma acuidade, que é muito mais interessante, como tratado no meu texto, a cidade dentro do campo.

6:42 PM  
Blogger jorge tanure said...

uau, bons os comentarios heim?! ate poarece um bando de alunos criticos e conscientes do 9 per de algum curso d graduação discutindo e defendendo suas posições...

qto ao txt, mto bom; legal esse desvendamento do rural anedotico, e do questionamento (sera?) do limite entre o rural e o urbano

7:51 PM  

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