outubro 28, 2007

Rever a arquitetura


Nosso, meu, seu, do outro, de todos, branco, preto, amarelo, vermelho, quente, frio, novo, velho, bonito, feio, triste, alegre, calmo, agitado, aberto, fechado, confinado, liberto, desmesurado, vazio, habitado, leve, pesado, real ou imaginado. Espaço é necessidade, é desejo, é memória, é tempo, é ser.


Não é preciso muito para que as coisas mais simples se transformem em uma espécie de estrutura que dá suporte á vida cotidiana. As pessoas se apropriam do espaço da melhor forma em cada situação, e frequentemente, as coisas a sua volta, sem intencionalidade, oferecem provisoriamente ou não, oportunidades inimagináveis.
Por mais que muitos objetos se apresentem exclusivamente para um objetivo específico, por mais que uma cadeira pareça ser inadequada para outros usos que vão além do sentar, sempre haverá um outro olhar.
O arquiteto precisa em primeiro lugar, abandonar o pensamento ingênuo, de que existe um controle. Entender que o espaço é formado muito mais por acontecimentos do que por formas acabadas e agir sobre essas situações de instabilidade, criando espaços, que deixem brechas a outros tipos de apropriação. Permitir a construção da individualidade, através de ambientes adequados, que estimulem ações, pensamentos e sentimentos.
O espaço não se constitui apenas por uma forma, ele é um conjunto de subjetividades múltiplas, onde o homem se apropria e atribui valores. Ou seja, é incorporação das necessidades e desejos do usuário, resultado de experiências humanas registradas em sua memória e do lugar onde intervém.
Afeições só são desenvolvidas pelas coisas com as quais verdadeiramente nos identificamos, coisas sobre as quais podemos deixar as nossas marcas, projetar nossa própria identidade, só a elas investimos cuidado e dedicação, fazendo com que se tornem parte de nós mesmos.
Se o nosso cotidiano é formado através do habito de apropriação dos objetos e consequentemente espaços, aceitar a imagem pela imagem, significa não experimentar. Na arquitetura o que vemos, só vale se vivemos, experimentamos, criamos outros usos jamais imaginados, desse modo, seria insuficiente dizer, que o que vejo é somente uma escada, uma porta ou uma janela. Seria demonstrar uma indiferença quanto ao que está implícito, tácito, sua aura por detrás das aparências, contentar apenas, com o que é evidentemente visível.

2 Comments:

Blogger Jucélia said...

Marcel Bénabou, diz que “A arte é um mal cujo remédio é o acaso.
A arte tem apenas uma forma, o acaso muitas.O acaso liberta a arte, mas quem nos libertará do acaso?”
O acaso na arquitetura também é inevitável, considerá-lo ou não é opcional, não considerá-lo no entanto, é ser ingênuo como vc disse e assim estamos sujeitos a criar monumentos obsoletos. O acaso, é sem dúvida um "mal" necessário.

11:14 AM  
Blogger jorge tanure said...

otimo

3:04 PM  

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