outubro 02, 2007

tempo de ..?



Desde que nasci sempre morei na cidade.

(1985) Rua asfaltada, luz elétrica, rede de esgoto, água e banheiro dentro de casa... Na cozinha, geladeira e fogão elétrico. Na sala, telefone, televisão e radio gravador. No quintal, pé de limão, laranja, pitanga,amora e as terríveis galinhas...

A primeira vez que visitei uma fazenda tinha mais ou menos 15 anos. Lembrei-me de quando era criança. Claro que sem o gado... mas com as galinhas. O tempo desapareceu. Parece que foi achatado num só momento.

(1995) Diferente de como acontece nas cidades as crianças ainda brincam na porta de casa. De bola, peteca de palha ou carrinhos de controle remoto...

(2000) Moro no mesmo endereço, não na mesma rua, tão pouco na mesma casa. A cozinha ganhou um microondas e um Extrator Walita, super processador de frutas... apesar de não termos mais no quintal o pé de laranja, limão, pitanga ou amora. Aumentamos a casa e fizemos uma sala para o computador.

(2005) Hoje a distancia-tempo é ainda menor. O tempo em que se encontra Coca-Cola em qualquer lugar deu lugar o tempo que se encontra de tudo em qualquer lugar. Parques industriais, resorts turísticos, condomínios rurais... O espaço-mercadoria se torna peça fundamental para a expansão do mundo mercadoria. Como nas fotografias de Alex Maclean... cidades que lembram campo, campo que lembram parques, parques que lembram cidades...

Não faz muito tempo que um casal de amigos voltou a viver no interior de Minas. Foram para o Rio de Janeiro depois do casamento e ficaram por lá quase 30 anos. Agora estão em um condomínio á 40 minutos de Belo Horizonte. Aquela história de respirar natureza, respirar tranqüilidade... Um terreno 400m² que eles chamam de sítio. Fica em um condomínio novo com poucos moradores. Isto porque a maioria das casas são para fins de semana.

(2007) Um condomínio com amplo espaço verde, cercado por Mata Atlântica. Água e energia elétrica, estação própria de tratamento de esgoto, além de área de lazer, pedalinhos e parque esportivo.
Uma fazenda modelo que abriga uma horta comunitária, onde as famílias poderão colher seus próprios alimentos. E como coloca a propaganda... “uma criação de animais típicos do campo completa o clima de tranqüilidade da vida rural”. Mas falta internet e a instalação de um ponto comercial dentro do condomínio. São dez minutos de carro até a padaria mais próxima.

Então percebo que aqui eu respiro pó, mas o céu ainda é limpo em alguns lugares... E ainda posso falar que existem vizinhos. Provavelmente deixarão de existir. São somas e subtrações. Não posso falar de igualdade. Os espaços são carregados de especificidades... de tempos e diferentes onde tudo ganha um novo significado.

1 Comments:

Blogger jorge tanure said...

otimo

8:07 PM  

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