novembro 17, 2009

Paradoxo Urbano

O mundo contemporâneo sofre com diversos problemas urbanos, transporte público, segurança, déficit habitacional, falta de espaço urbano, entre outros. O deslocamento das pessoas para as áreas centrais onde estão concentrados grandes números de vagas de empregos, principalmente os trabalhadores mais humildes, onde se deslocam todos os dias de bairros longínquos, encaram ônibus e metrô lotados, se espremendo uns aos outros, até o local de trabalho, isso gera um estresse muito grande entre as pessoas de cidades com esse tipo de problema.


As regiões sempre possuem uma cidade mais desenvolvida, onde a infra-estrutura é mais avançada, por este motivo atrai habitantes dos municípios vizinhos, o que dificulta ainda mais o problema de transporte público. A questão é comum na maioria das regiões e o ponto em que se é mais comum é que varias regiões se ligam a uma em comum, as quais seriam regiões comerciais ou industriais, onde está centrada a economia e as vagas de emprego. No entanto as moradias próximas a essa realidade são super valorizadas, e as pessoas que trabalham por perto nem sempre tem condições de sustentar uma moradia nesse local, e ao mesmo tempo, as pessoas que poderiam pagar o valor estimado para as moradias nessas regiões não querem morar ali, por diversas questões. Essa é uma lógica que já existe a muito tempo nos Estados Unidos e em outros países mais desenvolvidos, as pessoas que moram nas regiões centralizadas são aquelas que não podem morar em lugares mais reservados, que possuem uma segurança mais afetiva e maior tranqüilidade por ser bairros residenciais, abrigando apenas alguns pequenos comércios locais. No Brasil isso começou a acontecer nas ultimas décadas, com a inserção dos alfavilles, condomínios de luxo que são inseridos em regiões longínquas do núcleo urbano, com a promessa de segurança e bem estar, onde o acesso é restrito.


Outro aspecto a ser notado é a não utilização dos centros econômicos municipais no período noturno. Os centros comerciais são os locais da cidade onde possui a melhor infra-estrutura viária, parques públicos, praças e outros espaços públicos a serem citados, porém sua vida útil é baseada somente no período comercial, que é o horário onde as lojas e bancos estão abertos, fora isso as ruas dos centros geralmente se encontram vazias durante a noite, a não ser quando ocorre algum evento de grande importância, ou em alguns pontos específicos que abrigam bares e boates com funcionamento noturno. Porém só esse tipo de movimentação não é suficiente, além do mais, a existência de diversos prédios abandonados e semi-utilizados ajudam a desertificar os centros no período noturno, as capitais começaram a reformar e reutilizar prédios dos centros para moradias populares, que é uma grande saída para amenizar diversos problemas relacionados.
Existem alguns casos também de invasões a edifícios abandonados, organizado pelo movimento dos sem teto (MTST), onde esporadicamente locais de interesse a moradia destinada a pessoas de baixa renda são escolhidas para serem invadidos, mostrando a possibilidade de solução ao problema que se agrava cada vez mais pelo país.


O Brasil vem se desenvolvendo economicamente a cada ano, e isso deveria se refletir na qualidade de vida dos seus cidadãos, embora vários programas políticos venham se apresentando nos últimos anos, ainda cresce o número de habitantes em locais inadequados, a busca de uma moradia digna ainda faz parte da realidade de grande parte dos brasileiros, o que segue o contrário da lógica, já que existem tantos edifícios em desuso nas principais cidades do país, que é onde se encontra a maior parte do problema.


Grande parte dos edifícios abandonados possui um contexto histórico, e deveriam ser preservados de acordo com as normas de patrimônio do país, porém muitas vezes o que acontece é exatamente o contrário, alguns prédios históricos que não estão obsoletos, se tornaram pontos de comercio, museus, galerias, bibliotecas ou foram adaptadas para um novo uso, mas sem nenhuma preocupação com o que o prédio significa culturalmente ou historicamente, não só para região, mas também para o país que é multicultural. Mas existem diversas reformas que conseguiram manter as características históricas mesmo sofrendo algumas alterações, é o caso da pinacoteca de São Paulo, projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, onde as alterações do edifício foram sutis o suficiente para manter a memória do edifício, além de potencializar a vocação turística do local.


Os projetos que tem como medida de tornar os edifícios obsoletos em moradias populares tem alcançados vários resultados, o primeiro é o cuidado com os edifícios históricos, o que pode gerar um perfil turístico para a cidade, gerando emprego e renda para os municípios. Além de atrair moradores para as regiões centralizadas, diminuindo a criminalidade, o que poderia ajudar no processo de desfavelização, e ainda de tornar a cidade acessível, pelo ponto de vista da população que percorre grandes distâncias para poder trabalhar, e também fazer correr o dinheiro, já que um edifício desses é de grande valor e está obsoleto enquanto pessoas pedem por moradia.


Existem também projetos que visam esses prédios para âmbito comercial ou institucional, como a antiga sede do BNDES em São Paulo (1967 a 1979), e logo depois foi ocupado pela LIGTH (1982 a 1993), após ter ficado fora de uso 12 anos, o edifício ganhou um projeto de retrofit, que busca a atualização dos sistemas que compões o prédio, assim como eficiência energética, a readaptação de equipamentos defasados, e uma nova concepção de espaço interno. Essa tem sido uma prática cada vez mais comum, evitando o aumento de edifícios obsoletos, assim como buscar novas maneiras de utilizar edifícios fora de uso, para amenizar essa realidade.

HUGO MARLON