dezembro 01, 2009

A voz da razão

Se na atualidade fizermos uma reflexão e analisarmos a presente situação das ciências e todo seu conjunto, veremos que os progressos científicos das últimas décadas são um tanto quanto preocupantes, pois os grandes cientistas que as estabeleceram e mapearam o campo teórico - que ainda são base nos dias de hoje - viveram entre o século XVIII e o início do século XX.

Portanto Boaventura Santos (1987) relata que é possível dizer que em termos científicos vivemos ainda no século XIX e que o século XX ainda não começou.

O conhecimento cientifico busca sentido amplo, anseia se sobrepor as casualidades particulares e entender a razão comum nos casos.


Stéphane Huchet (2003) menciona que disciplina é aquela que, perante o feixe sempre complexo das práticas e das competências que a constituem através de seus artistas, vê suas convenções e seus sedimentos - seus impensados - abertos e investigados. Assim, cria o movimento profundo que mantém a disciplina viva.

Huchet (2003) afirma também que uma disciplina que não questiona seus impensados e que não racha seus estratos fossilizados não é digna de ser chamada de disciplina, é apenas sua casca remanescente, por conseguinte complementa que a verdadeira epistemologia exista a esse custo.

Mas seria danoso para as ciências tentar uma exaustiva exploração de possibilidades de uma atmosfera contaminadora e desconhecida?

Em seu artigo Huchet (2003) afirma ainda que o processo mais fascinante das produções estéticas modernas e contemporâneas consiste precisamente no fato de cada disciplina ter ido tão longe na experimentação das possibilidades-limites de suas linguagens que o cúmulo das especificidades encontrou-se, em cada uma delas, em estado de estar superado. O alcance dos confins destrói a fronteira: de repente, como em todo império, o âmbito disciplinar entra em contato com um fora que é uma grande paisagem aberta, um território novo (...) a nova geografia transdisciplinar assusta porque invalida as defesas, apaga as fronteiras, obriga a entrar em contato com o Outro, abala o conforto e a segurança que a delimitação dos territórios epistemológicos e disciplinares por definições específicas forneceu até agora.

Portanto uma tentativa de renovação epistemológica se faz necessária diante de uma carga externa que pressiona, renova e se multiplica incessantemente, porém a cientificidade se auto-recupera e cria suas próprias defesas tornando seu sistema imune a essa contaminação.

Assim, Cássio Hissa (2009) acredita que feita de desejos de objetividade, a ciência moderna produz, com os seus exercícios de razão, uma trajetória de movimentos que auxiliam a sua própria compreensão. Isso significa que: com a razão emerge a crise da razão; com a ciência moderna, emerge a crise da ciência. Em outros termos, observa-se que a crise da ciência é, também, uma manifestação da própria razão tateante, da sua crise e dos paradigmas que a referenciam. Os referidos desejos de objetividade, por seu turno, encaminham o problema para o próprio sujeito - contraditoriamente, de modo a encaminhar leituras objetivas do mundo, apartado do objeto que procura estudar. Ele deverá, assim, conforme as orientações do método científico (como se o método pudesse ser reduzido à unidade), se posicionar com objetividade diante do mundo sob leitura: isso pressupõe um desejo complementar de separação; entre o sujeito que lê o mundo e o objeto de sua leitura. No entanto, quem é o sujeito que lê o mundo senão o próprio sujeito do mundo tornado intérprete, cientista, através da formação que empreendeu e das trajetórias que construiu?

Portanto a arquitetura não deve se tornar uma criação unicamente das ciências que constituem sua base, mas deveria dialogar e se vê aberta à uma comunicação direta com a natureza de seu criador e com o mundo que a transforma, procedendo assim seus objetivos.