novembro 30, 2006

Latas viradas

Sabe, minha namorada outro dia me disse que os vira-latas são mais interessantes. Mais calmos, dóceis e inteligentes. Não que isso fosse uma novidade, mas fico pensando que os cachorros que criamos são muito mais agressivos do que o totó da rua. Tava pensando outro dia no Pinscher [a raça mais porca de cachorro que eu conheço (e olha que eu conheço porcos)] do meu vizinho que é o cachorro mais estressado que existe porque além de ficar dias latindo e nunca se cansar, é capaz de avançar sobre você muito mais verozmente do que um pit-bull. E como eles adoecem fácil!
Acho que a natureza modificada pelo homem adquiriu mais fragilidades do que conseqüências de bom agrado. O homem modificou tanto o entorno e a lógica do tempo que a cada dia tem-se menos tempo para fazer coisas simples do que tempo para as complicadas e improdutivas.
E fico pensando se a arquitetura estressa e adoece. Coitados dos cachorros que cuidamos com tanto carinho e veterinários que a cada dia ficam mais passivos e em uma inércia gritante. A domesticação dos animais domésticos (simples pleonasmo) é uma das traduções da inercialização do homem cotídio (daquele tom sem graça) que não busca detalhes em uma vida proscrita e sem valores reais.
Eu no ápice do não se dizer por não dito mesmo, sugiro que leiam “Marley e Eu” que é uma incrível história de um labrador retrivier que acaba com a vida dócil de um casal jovem que redescobre como que a vida pode ser muito mais ativa e com desdobramentos de valores que julgamos corretos.
Voltando à bola, a arquitetura vive o avesso do estranho quando o homem pensa em como viver fora em espaços públicos-privados em busca do fim de uma diplopia contemporânea em que viver em casa é deprimir as paredes pálidas de um branco suvinil.