agosto 19, 2008

A FESTA

Acordo cedo e vou ao supermercado comprar tudo que estava na lista: carnes, descartáveis, bebidas, etc. Corro para o salão de festas para ver como estão os preparativos. É a festa de aniversário do meu pai, ele esperou 60 anos para ter uma festa decente, não posso decepcioná-lo. Aluguei tudo, comprei tudo, agora só falta organizar o local. Fui pra casa, tomei um banho super rápido e voltei para o salão de festas. As mesas e as cadeiras chegaram. Passei quase duas horas planejando onde as mesas ficariam melhores, fazendo conta de quantas mesas caberiam em quais lugares, colocando cadeiras, toalhas e flores em todas as mesas. Nossa, foi um sufoco, 50 mesas devidamente organizadas e decoradas.

Os convidados chegam. De repente toda minha organização, zelo e dedicação vão por água a baixo: minhas tão queridas mesas organizadas e decoradas são arrastadas e agrupadas de qualquer forma. As pessoas tiram as cadeiras dos lugares e colocam amontoadas junto com outras em lugares que atrapalham a circulação, ficam desconfortáveis e a bagunça impera. Fiquei nervosa até perceber que o melhor para mim não é o melhor para as outras pessoas. Não dava para prever como as pessoas gostariam de se sentar, com que gostariam de se reunir, quantas pessoas gostariam de se sentar em uma única mesa, etc.

É isso mesmo que acontece na cidade. O urbanismo clássico determina coisas que não podem ser respeitadas simplesmente porque as pessoas usam o espaço urbano da forma como é conveniente para elas. A cidade é o cenário dos encontros, palco da vida das pessoas, VIDA REAL . Assim como na festa do meu pai os usos e as necessidades só aparecem com a ocupação da cidade. Antes disso, como prever se um supermercado vai gerar engarrafamentos ou não em determinados lugares se não sabemos nem se esse supermercado vai existir? As cidades surgem sozinhas, o nosso papel é administrar esse surgimento e “tentar” organizar o crescimento. Tentar mesmo, porque é difícil prever se vai dar certo. As pessoas que convivem na cidade é quem fazem o verdadeiro urbanismo, o do cotidiano.





Lilian Castro